terça-feira, 31 de dezembro de 2013

#30 - A todos os que vieram e já se foram

Sorrindo muito,
Sorrindo por
qualquer coisa.
Rindo juntos.
Rindo de desencontros.

É lindo estar
todo mundo só rindo.

É uma pena que nós
não sorrimos mais
um pro outro.

domingo, 29 de dezembro de 2013

#29 - Eu sentei à beira do oceano

O oceano que leva
uma cultura,

uma era.

Leva também 
meu amor,
que não era
recíproco,
verdadeiro
e nem duradouro.

Carrega toda uma carga inútil
que não se dá ao luxo
de se aprimorar, de se orgulhar.

Era mesmo necessário tamanha desventura?

Se a cada amor
tu levas uma esperança,
me tira relevância
e me deixa com nada.

É mesmo necessário esse sofrimento?

De não ter alimento

ou sequer diversão.

Tu me abandonou 
desde o começo,
e me deixou com
uma sombra de
um sonho meu.

Que me aceitava
e se orgulhava
em ser minha posse.

Mas nem isso você pôde.

Só pôde iludir,
fingir e me dar
falsas esperanças.

Não, não pode ser verdadeira.
Porque não mereço algo tão falso.

Só mereço descaso,
algo falso, pra viver no encalço
de possível amor
pra acalmar
esse leve tremor.

sábado, 28 de dezembro de 2013

#28 - Oração para minha própria arrogância

Salva-me, insanidade,
de todo holograma de poder
que paira poderoso e controlador
sobre as necessidades.

Me livra de toda
ostentação desnecessária.

De toda auto-ridicularização
e de falsas auto-realizações.

Proteja-me de
sequer pensamentos tais.

De me inflar com brilhantes,
de me achar melhor que antes.

Livra-me, principalmente
da generalização,
da falta de controle,
da viseira social,
da toda e qualquer
falta de criatividade sub-humana.

domingo, 22 de dezembro de 2013

#27 - Tem um urubu na sua janela, moça

Me peguei nos últimos dias
sem a capacidade de
produzir sequer um poema.

Não há nada sobre o que escrever.

As chuvas que assolam o estado?
Os jornais já o fazem.

Já não há mais amores,
eles fojem de mim
ou passam despercebidos
pelas ruas do cotidiano.

Meus rolês já não tem emoção
o que antes desconhecido, me atraía
já não tem mais graça,
já não me dá ganância.

E não, nada me sacia,
nenhuma felicidade me preenche.

Só encontro conforto no violão,
numa cerveja qualquer
e em flertes rápidos e sem valor
mas, não com qualquer mulher.

Não, essas coisas
não me dão mais vontade de escrever.
Não me são suficientes.
Não me preenchem.
Não me valem.
Não.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

#26 - Tantas caras

Domingo com cara de sábado,
com cara de você e outro,
cara de alegria
cara de eu melhor.

Noite com cara de não sou,
de ninguém,
de derrame,
de enfim paz.

Segunda com cara de
meu próprio velório,
de deitar e no caixão ficar,
de repousar,
de não ter paz.

Amanhã com cara de não ter cara.

sábado, 14 de dezembro de 2013

#25 - Retórica da Amputação

Merda,
a perda coça,
como membro amputado
retirado por tragédia,
ou por necessidade
de quem perde a rédea.

Coça,
porque uma vez senti algo preso
ao invés da inexistência
de membro complementar.

E não há nada
porque carecia de tragédia,
de algo que me tirasse
as mãos firmes das rédeas.

Rédeas essa que
sempre tive controle,
direcionava pra onde quisesse
e ainda, vez ou outra, voltava atrás.

E coça mais
quando vejo, ou sequer ouço,
o sussurrar do rádio
a soar como soava
o que costumava ficar
no lugar da coceira.

E coça ainda mais
quando sinto como
se invés de vazio
houvesse membro.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

#24 - Sentindo o abalo da colisão de outro corpo

A tarde chuvosa
a gula lícita
a falta sentida
a presença da dúvida
a preocupação mútua
a questão sem resposta.

O medo do não ser
o olhar incerto
o manipular virtual
o não se isolar
o susto do afastar
o medo de errar.

A voz que abala
o não reagir
a bala que mata
o sentir sem ser
a observação do temer
o questionar a força.

Não há o que temer.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

#23 - Amnésia Romântica

Hoje, você
resolveu aparecer
e me devolver
meu poder
de escrever.

Não por inspiração
nem por sentimento.

Devolveu
meu poder
de escrever
por me lembrar
d'eu poder
te esquecer.

Não por rancor
nem por falta de
sentimento ou cor.

Mas porque
eu tenho
o poder
de esquecer
e de escrever.

Mesmo sem saber
ao certo
quem de vocês
é você.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

#22 - Menti no olhar

Me instiga a vontade
de olhar pro lado
e sem maldade
encontrar outro afago.

Mas me afasta o pensamento
pois, peças lado a lado
derrubam umas as outras
quando caem,
num efeito infinito,
um loop do instinto
de me tirar opção.

Vejo se é cedo ainda
pra me inflar e engomar,
pra que eu minta,
pra eu me enrolar em falar,
pra procurar ponto
pra esse rasgo.

E não compreendo
quem se permite
doar tanto assim
sem dar nada de si,
nem ré, nem fá e nem mi.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

#21 - Cronus

Já não quero mais insistir nessa dor,
talvez eu não lhe ame mais,
talvez eu seja um bom ator.

Já não cabe a mim insistir,
nem a você aceitar e nem ouvir
tudo que eu tenho pra falar,

e nem aos outros nos assistir.

Já tive profecias sem fundamentos
suficientes para uma bíblia.
Cansaço e mal humor
dignos de um pai de família.


Já entendi que pra você
não sou assim tão aconchegante
e que nem ao menos lhe caibo.

E também que não depende de mim
nem de você ou sequer do tempo.
Depende de nós.


Já não vai mais me assombrar
em todo e qualquer segundo de mente vazia.
Tive o suficiente dessa fadiga 

pra toda uma vida.

Já deixo você ir.
Já vejo você voltar.
Já vejo eu sorrir.

Já vejo o mar.
Anseio seu ancorar.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

#20 - Briga pelo segundo lugar

Você desapareceu
mas teu perfume permaneceu,

em minhas roupas,
em meus poemas,
em minhas músicas,
em todo canto que eu ria.

Impregnou com praga branca
meu caminho,

meu olhar,
meu sentir,
meu sorrir.

Você disse a outro e não a mim
teu desviar,

tua ausência,
teu preocupar,
tua inocência. 

Inocência por sua escolha
de se afastar,
de se arrepender
de me ignorar,
de não mais nos ver.

Então me caiu a ficha,
Eu também posso escolher.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

#19 - Pipa em vácuo

 E há quem dirá
que eu me esforço de menos
se lhe deixo voar
e fico no encalço com olhos atentos.


Se queres ar, não vou negar
mas a hipotermia corriqueira
que bate, sacode, canta

e me afoga de amar
me faz questionar.

Há quem diga ainda
que te prendo demais
se em teu encalço fico
se a todo momento lhe quero comigo.


Lhe solto querendo prender,
mas lhe solto sem problemas
mesmo por dor, sem querer
quero que corra e desfrute
e se desprenda do que lhe insulte.


Eu que o digo,
se lhe admiro voar
é porque tenho vontade de voar contigo.
E não me espanto por moço-amigo
se ao nascer do sol voares comigo.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

#18 - Diamante

Diamante, bruto ou lapidado
de mil pontas e mil lados
de alma pura ou de brilho ocultado.
Preso em anel de casamento,
moldado pela lava ou pelo vento,
está agora em minhas mãos.

Seja ganho por garimpo suado
ou em loja-vitrine comprado,
obtido justamente 
ou por sujo-homem roubado.
Jamais perde seu valor,
sua falta, ouro nenhum pode repôr.

Tão brilhante e quente como o sol,
tão precioso e potente como o anel,
O custo de tal é inestimável 
e todos o procuram
Mas esse é meu.

Meu, por roubo e direito,
não por eu o ter comprado
mas por ter sido eu o garimpeiro.
Por lhe ter amado
e por ter lhe dado beijo,
apesar de ainda não termos encontrado eixo.

Colocarei logo em ti um anel,
esse é o meu desejo fiel,
depois de ti não haverá outras.
Me vejo refletido em sua clareza
sua luz, tão clara, 
quase machuca os meus olhos,
mesmo assim entro em extasia. 

Em joalheria não me sinto mais tentado, / Outros podem ter pérolas, talvez rubis
pois eu tenho minha amante, / Mas eu tenho meu diamante,
meu eterno brilhante. / meu precioso amante
Eu tive você. / Eu tive você. - Pollux e Castor.

domingo, 10 de novembro de 2013

#17 - Nesse leva e trás

Não, não me canso de questionar.
O cheiro da viagem

e do transcendentalismo
já está a tempos no ar.


Olho carros pelo vidro
e me recupero,

me lembro que de seu amor
não me livro.


De seus olhos,
de suas coxas,
de seus ombros,
não me livras.

Tantas horas não te vejo.
De tantas formas eu me vejo,

tantas ondas me lembram o teu beijo.

Sou sacana
quando oportunidade não tenho

de te ter ao fim de semana.
Quanta solidão tenho
sem teus braços
Gaia, ana.

Mereço, todas as vezes
em que em teu braço pereço.
Toda e qualquer movimentação
só partem de minha motivação.

Em meu interior exposto
quero apenas te ver,
tocar teu rosto,
lhe provocar,
quando não me faltar ar.

Já não tenho 
mais vida
preciso admiti-la. 

#16 - Sou como um advogado acusador querendo lhe prender

Lento, baixinho, de fininho
lembro de você
em meu quinho, inho.

Você, que faz eu me diminuir
me omitir.
Só tenho a lhe dizer
que me oprima.
Me diminua, subtraia
diminua.
Como só você pode fazer.

Me faça por conclusão

com certeza e exatidão
e não por dúvida
e temperança,
ou por carne, sem ânsia.

Quero-lhe sã,
irmã, grã de ordem
ou em mim de desordem.

Quero pro que lhe faz feliz
para a árvore-vida de vários frutos
ou pra mim de poucos escrúpulos.

E novamente sou quem posso ser.
Algo que caiba eu e você
como posso ser?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

#15 - Culpa, vento sem rumo

Na minha explicação
da tua falta de razão
fui capaz de ver
o erro que não cometi
e que o amor que dei pra ti
passou como folha ao vento.

Culpei-me então
de tua falta de noção
de que abaixo de nós
há um chão duro e frio
e não mais meu colchão macio.

E em outros olhos
a porta aberta
mostra a incerta
certeza da direção
do meu amor.

Culpei-me então
da minha falta de atenção
que cada detalhe
antes incerto
era claro e verdadeiro,
apoiado na dúvida como poleiro.

E agora, folha tornou-se ave
a incerteza do voo tomou rumo
à teus braços e pernas claras
perdido no conforto de teus rubros fios.

Culpei-me então
da busca constante por chave
pro cadeado com clave
pra me tirar da solidão,
e quando a achei,
culpei-me por sua isolação.

#14 - Carro

Estradas largas por quilômetros,
sem postes, sem luzes,sem faróis.
Abaixo de mim a estrada e acima
apenas um céu limpo e a ausência do Sol.

Parte do caminho concluída sem um guia, mapa
e muitos companheiros perderam-se na partida.
Alguns que ficaram no caminho retornam
só para eu assisti-los explodir.

Não basta eu achar minha luz,
há a necessidade dela oscilar por conta própria.
Não basta eu me lançar na estrada
e me dirigir a quem melhor dirige,
há a necessidade do motor sobrecarregar.

Enquanto me arrasto
em primeiro na marcha da partida
as peças vão caindo
e eu as recupero
sempre que possível.

Minha luz guia, farol
ilumina o caminho próximo
e a incerteza do resto da jornada
que permanece em sigilo pelo Todo
e só cabe ao motor a ajudar a iluminá-lo.

Sou um Sedan,
carro de luxo,
esportivo,
um compacto e
em expectativa e
introspecção,
Mini-Van.

Sou o que preciso ser,
o que for preciso pra caber
eu e você.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

#13 - Sinhá Moça

Amarrado ao tronco no pátio
com o Capitão do Mato
a me chicotear sem dó
e sem remorso do ato.


Aqui eu pertenço,
aqui sou escravo,
aqui é onde sirvo,

sou pago com dor
e não com centavo.

Minha paz é o cantar dos pássaros,

o som do rio a correr,
o sonho dos dias de liberdade
e o sorriso que a Morena há de prover.


A vontade de tê-la
me mantém de pé.
A chibata, não ei de temê-la
pois em casa espera a mulher.


O calor nas costas é confortante,
a sopa magra tem de ser tomada.
Minha Morena é a corrente
e, ao mesmo tempo, a pomada.

O que me mantém ainda
é o sonho da Carta de Alforria
entregue pela Morena
juntamente com os dias de alegria.

E pela liberdade, amada

já não posso esperar.
Toda gota de tempo é demais
pra alma pobre que só sabe amar.
Toda migalha é muito
pra quem só sabe doar.

domingo, 27 de outubro de 2013

#12- Duplicata Dissemelhante

A gata me arrebata,
meche comigo, acerta na lata.
Vez em quando, por caridade, cede a pata,
mas em maioria, morde, mia, se faz de sensata.

As vezes com manha,
apenas ameaça, não me arranha.
E com o muito que tem ainda barganha.

Vem hora sim, hora não.
Como quem está brincando com meu coração.
Mas lhe atraio como novelo de lã
e com minha outra parte a traio,
com sua semelhante, irmã.

Mas a culpa é e não é minha,
tampouco sua.
Vamos apenas fingir que
isso tem que acontecer.
independentemente do
quanto eu tenha de correr.

Apenas atenda o telefone,
não importa a hora
Ouça minhas embriagadas palavras
e não diga que vai embora.

Sinta e viva o agora,
Erice os pelos ou morda a gola,
Seja você mesma ou caia fora,
mas faça por vontade e não por moda.
Porque assim seria mais foda.

E mie por aprovação, sem medo,
a gente não precisa fazer segredo.
pois mais vale correr o risco da felicidade
do que a certeza do "nunca foi verdade".

- Pollux e Castor

#11 - A tela é a janela, a roça é a porta.

Venho pensando quadrado
tudo vem encaixotado
mastigado, escarrado
tudo à mostra, tudo na mostra.

As palavras vão chegando
e se alojando,
de domingo a domingo
a alegria me idiotiza.

Pintam na tela
um quadro padrão
para eu seguir, rir
por uma semana repetir.

Desnudam-me a mente
com rebolados vazios
enquanto tocam
as músicas mais quentes.

Pintam-me em
imagem desfocada e dissemelhança.
Representam-me de fachada
enquanto rio da palhaçada.

Apagam a verdade dos muros
e desenham a falsa realidade
nas telas, em minhas janelas
enquanto morro lentamente,
de idade, de prematuridade.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

#10 - Pose Posse Posso

O lago se encontra plano,
sem falhas ou ondas
nada por baixo dos panos
não há necessidade de se fazer rondas.

Engaiolado à suposta certeza
apoiado à promessa não feita.
A casa está trancada
mas não está segura.


A necessidade de posse
não brilha mais em minha janela,

mas faz bem pro ego
poder compartilhar algo de si.
Faz bem pro espírito saber
que sua vida é mais do que "eu".

Não meu, seu.
Não possuo ganância,
só me resta doar-me
sem caixinha de brinde.

O lago permanece plano,
transparente o suficiente
para se ver os sentimentos
nadando em serpentinas,

entrelaçando-se ordenadamente
brilhando e evitando serem vistos,
deixando óbvio ou fazendo mistério,
esperando um movimento do observador
ou largando a timidez e se mostrando por completo.

Entrego-me com peixes variados,
com caixinha e tudo.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

#9 - Aura-hora

Já não vejo a aura-hora 
em que o sorridente sol
e que todas as premeditadas
linhas do céu se mostrem em acontecimentos.

Pensei,
no momento que despertei
e recordando que não era mais rei
percebi que a coroa fora roubada 
de maneira dada e quem sabe presenteada.

Golpe na coroa,
sucumbiu o reino.
Felicidade se via
mas não era palpável.

Moça das neves,
Quem lhe segura?
Quem lhe ordena, implorando, que não deves?

Quem disse o que dirão
no lampejo d'um sonho
em que a maçã me cobra 
um beijo que nunca antes fora debitado?
Como dirão?

Escraviza-me alma e coração
enquanto balbucia algo de oração
como se não bastasse o clone
vazio e color que me ocupa o verão.

A alma transparece 
em roxos-azuis, a ausência,
e tornar-se-ão em laranjas
e vermelhos limões
para que refresque-me a alma
morna do sangue quente.

Dirão no lampejo que
onde olho te vejo?
E acaso saberão que 
a resposta do impulso nem eu conheço?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

#8 - Alvorada

O dia em que esqueci tudo.
tudo, que deixei pra trás, ao meu lado
tudo gira, em torno, tudo me encara
tudo não é nada, não existe nada
nada, hoje, para nós, não é nada.

A corrida inesperada rumo ao horizonte esférico
flagela-me o suficiente para uma pausa,
uma pausa de observação, admiração.
No fim, o que deixei pra trás se não tudo aquilo
que tenho em meus bolsos agora?
E pra muitos a perda foi grande suficiente
para arruinar toda a jornada banal,
arruinar tudo que me trouxe de carnal,
eu não penso que chegue a ser assim.
Para o pássaro que sobrevoa a suprema fraqueza
nada mais pode tocá-lo, tudo é intocável,
tudo está entocado.

E se você me visse destruir
o castelo de areia que foi construído
pelas filhas do Criador no quarto dia
você diria que eu sou um tolo.
Se você visse eu me abalar
pelas muralhas que foram construídas por nós
no segundo dia, você diria que eu sou um fracassado.

Eu não sei por onde a orla me guiará,
nem sei se ela irá me levar à algum lugar
eu quero apenas poder me sentar
e observar o anoitecer.
Pra mim, é o suficiente.
Qualquer lugar que eu, Sol, possa me deleitar
e sentir o suave e gélido toque,
pra mim é o paraíso.

Tocar o reflexo da lua
que paira sobre a calmaria marinha
foi meu grande erro, mas também
é uma habilidade para poucos.

sábado, 12 de outubro de 2013

#7 - Fio de Prata que me leva

Nada como o choque da atração
que nos torna tão próximos.
Amor ao próximo,
pra que tanto paradoxo?

E da terra pro mar
tudo fluiu,
puta que pariu,
fluiu tão bem, que mal tem?

No calor da colisão

foi que veio a confissão.
No calor da colisão
o fio líquido de prata
me distanciou.


Eu sei que deveria congelar
parar tudo e achar
uma maneira, uma alternativa
pra isso continuar.

Mas, foi no calor da colisão
que eu me achei,
foi ali que meu eu se manifestou.

Eu deveria me envergonhar
da covardia, me flagelar
me purificar.
E de algum modo, eu o faço.

Claramente a coroa está vulnerável.

#6 - Outro Lado

Ontem deixei a porta aberta
e deixei todos os sentimentos
mais perversos entrarem.
Me joguei como lixo na estrada da vida
senti o amargo da morte
tocar meus lábios.

Pudera eu cumprir tudo que falo,
nunca voltar atrás.

Sempre amei-a, a vida,
e na tentativa forçada de agarrá-la
eu fui justamente pro outro lado.
Não mais me lembro de lá
mas os outros o fazem por mim
e não fazem questão de omitir.

Ah, pudera eu cumprir tudo que falo.

#5 - Homem de Lata

Lá vai ele novamente,
o homem de lata de quem todos falam.
Cheio de si por não ter coração
não chora e não sofre quando lhe abandonam.

Sábio é ele de não ligar,
para as coisas simples e absurdas
que essa vida nos dá.
Sábio por saber que o importante
é cultivar e não se apossar.

A muito foi dito que ele tinha ganho um coração,
se arrependeu do pedido
que acabara de lhe ser concedido
por conhecer as dores dos amores e da paixão.

Ah,  sábio é ele!
Por não notar os pequenos detalhes
que lhe rasgariam o peito caso notados,
detalhes que mudariam toda sua visão e interação.

Mas é sabido que sua vida é sem graça e sentido,
que o período em que seu coração lhe maltratou
foi a única vez em que ele se sentiu vivo,
e que ele sempre repete para o mundo
que o bom da vida é o estrago.

#4 - Divino

Ah, mas todas as verdades foram ditas,
de todas as mentiras ela era a mais bonita.
Eu não podia simplesmente deixá-la,
tinha de tomá-la, fui criado pra escolhe-la.

Jurei meu amor uma vez pra poder entrar
no inferno que é ser preso a outra vida,
E lá descobri que a recompensa do paraíso
não é ser santo e sim ter asas.

Mas me perdoe Deus se não pude agir de maneira bonita
Afinal de contas não sou tão hipócrita
a ponto de fingir um sentimento tão divino.

Mas meu bem, por mais longe que estejas
é por ti que meu coração peleja,
minhas marcas pertencem a outras as quais eu incendiei,
mas é teu aconchego que me mantem aquecido.

E de todas as vezes que te vi
não houve uma vez sequer que não me arrancaste um sorriso.
E todos as entidades sabem que nunca é só isso,
sabem que essa é a melhor (ou maior) paçoca que eu posso dar.

Mas me perdoe Deus se não pude agir de maneira bonita
Afinal de contas não sou tão hipócrita
a ponto de fingir um sentimento tão divino.
E diga ao porteiro que abra as portas
pois é à liberdade celeste onde eu pertenço.

#3 - Poesia do Ego Relativo

Eu gostaria de saber
onde minha certeza foi parar.
De saber, onde, como
e quando, as coisas
voltarão a se clarear.

Eu gostaria de entender
quando foi que o cachorro
passou a largar tão facilmente seu osso.
Quando foi que o passado
se tornou tão doloroso.

Eu gostaria de poder
deixar tudo tão claro
quanto se pode deixar.
De poder traduzir em palavras
e ações, tudo que penso, que sinto e que quero falar.

Eu gostaria de culpar
os outros pelas coisas
que dão errado, como todos fazem.
De culpar os céus pela dor
e pelas tragédias que nos cercam.

Eu entenderia
se você saísse pela porta e nunca mais voltasse.
Se você me batesse,
cortasse e até sem remorso
me xingasse.

Eu poderia ter escolhido
o certo e deixar de lado
o duvidoso, majestoso.
Poderia ter seguido
contigo e de bom grado.

Eu poderia pensar menos “eu”
e mais “nós”
caso 4 cordas coubessem no mesmo nó.
Eu poderia ser exclusivo,
caso não me importasse em virar pó.

Mas eu não gosto de nada simples
e muito menos monótono.
E por isso vou seguindo errando
até não mais existir esse plano,
até meus pés não mais caberem no pano.

#2 - Gravidade

Tudo sobre meus ombros,
por toda a caminhada essa era
a única sensação que eu conhecia,
a única que me cabia.

Mas ao avistar o grande satélite
que se estendia no horizonte
rumo à seu lugar real
a salvadora Energia fluiu do monte.

Leveza, pela primeira vez,
tomou-me o corpo e, de súbito
fez-me erguer o pé do chão
de encontro a aqueles que jaziam em silêncio absoluto.

Abaixo de nós um mar negro
enfestado de dor, sofrimento e luto.
Estavam todos aqueles que outrora
foram contra aquilo pelo qual eu luto.

E como num piscar de olhos
volto à minha condição inicial,
condição da qual não era justa
para nenhum tipo de animal.

Então quase por surpresa,
a luz prateada banha minhas costas.
E me mostra que na natureza,
Meras coisas não são só coisas.

#1 - Reflexão

Anteontem tudo estava embaçado,
mas, pude ver claramente a confusão
que se passava na minha cabeça
tentando entender a alucinação.

Ontem pude ver o lado negro
das múltiplas cores que habitam
naquele pequeno pedaço de papel
que é facilmente adquirido nas ruas.

Hoje pude estar novamente
como telespectador desse show de horrores
e percebi que toda aquela cegueira
invalida os meus velhos amores.