terça-feira, 29 de outubro de 2013

#13 - Sinhá Moça

Amarrado ao tronco no pátio
com o Capitão do Mato
a me chicotear sem dó
e sem remorso do ato.


Aqui eu pertenço,
aqui sou escravo,
aqui é onde sirvo,

sou pago com dor
e não com centavo.

Minha paz é o cantar dos pássaros,

o som do rio a correr,
o sonho dos dias de liberdade
e o sorriso que a Morena há de prover.


A vontade de tê-la
me mantém de pé.
A chibata, não ei de temê-la
pois em casa espera a mulher.


O calor nas costas é confortante,
a sopa magra tem de ser tomada.
Minha Morena é a corrente
e, ao mesmo tempo, a pomada.

O que me mantém ainda
é o sonho da Carta de Alforria
entregue pela Morena
juntamente com os dias de alegria.

E pela liberdade, amada

já não posso esperar.
Toda gota de tempo é demais
pra alma pobre que só sabe amar.
Toda migalha é muito
pra quem só sabe doar.

domingo, 27 de outubro de 2013

#12- Duplicata Dissemelhante

A gata me arrebata,
meche comigo, acerta na lata.
Vez em quando, por caridade, cede a pata,
mas em maioria, morde, mia, se faz de sensata.

As vezes com manha,
apenas ameaça, não me arranha.
E com o muito que tem ainda barganha.

Vem hora sim, hora não.
Como quem está brincando com meu coração.
Mas lhe atraio como novelo de lã
e com minha outra parte a traio,
com sua semelhante, irmã.

Mas a culpa é e não é minha,
tampouco sua.
Vamos apenas fingir que
isso tem que acontecer.
independentemente do
quanto eu tenha de correr.

Apenas atenda o telefone,
não importa a hora
Ouça minhas embriagadas palavras
e não diga que vai embora.

Sinta e viva o agora,
Erice os pelos ou morda a gola,
Seja você mesma ou caia fora,
mas faça por vontade e não por moda.
Porque assim seria mais foda.

E mie por aprovação, sem medo,
a gente não precisa fazer segredo.
pois mais vale correr o risco da felicidade
do que a certeza do "nunca foi verdade".

- Pollux e Castor

#11 - A tela é a janela, a roça é a porta.

Venho pensando quadrado
tudo vem encaixotado
mastigado, escarrado
tudo à mostra, tudo na mostra.

As palavras vão chegando
e se alojando,
de domingo a domingo
a alegria me idiotiza.

Pintam na tela
um quadro padrão
para eu seguir, rir
por uma semana repetir.

Desnudam-me a mente
com rebolados vazios
enquanto tocam
as músicas mais quentes.

Pintam-me em
imagem desfocada e dissemelhança.
Representam-me de fachada
enquanto rio da palhaçada.

Apagam a verdade dos muros
e desenham a falsa realidade
nas telas, em minhas janelas
enquanto morro lentamente,
de idade, de prematuridade.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

#10 - Pose Posse Posso

O lago se encontra plano,
sem falhas ou ondas
nada por baixo dos panos
não há necessidade de se fazer rondas.

Engaiolado à suposta certeza
apoiado à promessa não feita.
A casa está trancada
mas não está segura.


A necessidade de posse
não brilha mais em minha janela,

mas faz bem pro ego
poder compartilhar algo de si.
Faz bem pro espírito saber
que sua vida é mais do que "eu".

Não meu, seu.
Não possuo ganância,
só me resta doar-me
sem caixinha de brinde.

O lago permanece plano,
transparente o suficiente
para se ver os sentimentos
nadando em serpentinas,

entrelaçando-se ordenadamente
brilhando e evitando serem vistos,
deixando óbvio ou fazendo mistério,
esperando um movimento do observador
ou largando a timidez e se mostrando por completo.

Entrego-me com peixes variados,
com caixinha e tudo.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

#9 - Aura-hora

Já não vejo a aura-hora 
em que o sorridente sol
e que todas as premeditadas
linhas do céu se mostrem em acontecimentos.

Pensei,
no momento que despertei
e recordando que não era mais rei
percebi que a coroa fora roubada 
de maneira dada e quem sabe presenteada.

Golpe na coroa,
sucumbiu o reino.
Felicidade se via
mas não era palpável.

Moça das neves,
Quem lhe segura?
Quem lhe ordena, implorando, que não deves?

Quem disse o que dirão
no lampejo d'um sonho
em que a maçã me cobra 
um beijo que nunca antes fora debitado?
Como dirão?

Escraviza-me alma e coração
enquanto balbucia algo de oração
como se não bastasse o clone
vazio e color que me ocupa o verão.

A alma transparece 
em roxos-azuis, a ausência,
e tornar-se-ão em laranjas
e vermelhos limões
para que refresque-me a alma
morna do sangue quente.

Dirão no lampejo que
onde olho te vejo?
E acaso saberão que 
a resposta do impulso nem eu conheço?

terça-feira, 15 de outubro de 2013

#8 - Alvorada

O dia em que esqueci tudo.
tudo, que deixei pra trás, ao meu lado
tudo gira, em torno, tudo me encara
tudo não é nada, não existe nada
nada, hoje, para nós, não é nada.

A corrida inesperada rumo ao horizonte esférico
flagela-me o suficiente para uma pausa,
uma pausa de observação, admiração.
No fim, o que deixei pra trás se não tudo aquilo
que tenho em meus bolsos agora?
E pra muitos a perda foi grande suficiente
para arruinar toda a jornada banal,
arruinar tudo que me trouxe de carnal,
eu não penso que chegue a ser assim.
Para o pássaro que sobrevoa a suprema fraqueza
nada mais pode tocá-lo, tudo é intocável,
tudo está entocado.

E se você me visse destruir
o castelo de areia que foi construído
pelas filhas do Criador no quarto dia
você diria que eu sou um tolo.
Se você visse eu me abalar
pelas muralhas que foram construídas por nós
no segundo dia, você diria que eu sou um fracassado.

Eu não sei por onde a orla me guiará,
nem sei se ela irá me levar à algum lugar
eu quero apenas poder me sentar
e observar o anoitecer.
Pra mim, é o suficiente.
Qualquer lugar que eu, Sol, possa me deleitar
e sentir o suave e gélido toque,
pra mim é o paraíso.

Tocar o reflexo da lua
que paira sobre a calmaria marinha
foi meu grande erro, mas também
é uma habilidade para poucos.

sábado, 12 de outubro de 2013

#7 - Fio de Prata que me leva

Nada como o choque da atração
que nos torna tão próximos.
Amor ao próximo,
pra que tanto paradoxo?

E da terra pro mar
tudo fluiu,
puta que pariu,
fluiu tão bem, que mal tem?

No calor da colisão

foi que veio a confissão.
No calor da colisão
o fio líquido de prata
me distanciou.


Eu sei que deveria congelar
parar tudo e achar
uma maneira, uma alternativa
pra isso continuar.

Mas, foi no calor da colisão
que eu me achei,
foi ali que meu eu se manifestou.

Eu deveria me envergonhar
da covardia, me flagelar
me purificar.
E de algum modo, eu o faço.

Claramente a coroa está vulnerável.

#6 - Outro Lado

Ontem deixei a porta aberta
e deixei todos os sentimentos
mais perversos entrarem.
Me joguei como lixo na estrada da vida
senti o amargo da morte
tocar meus lábios.

Pudera eu cumprir tudo que falo,
nunca voltar atrás.

Sempre amei-a, a vida,
e na tentativa forçada de agarrá-la
eu fui justamente pro outro lado.
Não mais me lembro de lá
mas os outros o fazem por mim
e não fazem questão de omitir.

Ah, pudera eu cumprir tudo que falo.

#5 - Homem de Lata

Lá vai ele novamente,
o homem de lata de quem todos falam.
Cheio de si por não ter coração
não chora e não sofre quando lhe abandonam.

Sábio é ele de não ligar,
para as coisas simples e absurdas
que essa vida nos dá.
Sábio por saber que o importante
é cultivar e não se apossar.

A muito foi dito que ele tinha ganho um coração,
se arrependeu do pedido
que acabara de lhe ser concedido
por conhecer as dores dos amores e da paixão.

Ah,  sábio é ele!
Por não notar os pequenos detalhes
que lhe rasgariam o peito caso notados,
detalhes que mudariam toda sua visão e interação.

Mas é sabido que sua vida é sem graça e sentido,
que o período em que seu coração lhe maltratou
foi a única vez em que ele se sentiu vivo,
e que ele sempre repete para o mundo
que o bom da vida é o estrago.

#4 - Divino

Ah, mas todas as verdades foram ditas,
de todas as mentiras ela era a mais bonita.
Eu não podia simplesmente deixá-la,
tinha de tomá-la, fui criado pra escolhe-la.

Jurei meu amor uma vez pra poder entrar
no inferno que é ser preso a outra vida,
E lá descobri que a recompensa do paraíso
não é ser santo e sim ter asas.

Mas me perdoe Deus se não pude agir de maneira bonita
Afinal de contas não sou tão hipócrita
a ponto de fingir um sentimento tão divino.

Mas meu bem, por mais longe que estejas
é por ti que meu coração peleja,
minhas marcas pertencem a outras as quais eu incendiei,
mas é teu aconchego que me mantem aquecido.

E de todas as vezes que te vi
não houve uma vez sequer que não me arrancaste um sorriso.
E todos as entidades sabem que nunca é só isso,
sabem que essa é a melhor (ou maior) paçoca que eu posso dar.

Mas me perdoe Deus se não pude agir de maneira bonita
Afinal de contas não sou tão hipócrita
a ponto de fingir um sentimento tão divino.
E diga ao porteiro que abra as portas
pois é à liberdade celeste onde eu pertenço.

#3 - Poesia do Ego Relativo

Eu gostaria de saber
onde minha certeza foi parar.
De saber, onde, como
e quando, as coisas
voltarão a se clarear.

Eu gostaria de entender
quando foi que o cachorro
passou a largar tão facilmente seu osso.
Quando foi que o passado
se tornou tão doloroso.

Eu gostaria de poder
deixar tudo tão claro
quanto se pode deixar.
De poder traduzir em palavras
e ações, tudo que penso, que sinto e que quero falar.

Eu gostaria de culpar
os outros pelas coisas
que dão errado, como todos fazem.
De culpar os céus pela dor
e pelas tragédias que nos cercam.

Eu entenderia
se você saísse pela porta e nunca mais voltasse.
Se você me batesse,
cortasse e até sem remorso
me xingasse.

Eu poderia ter escolhido
o certo e deixar de lado
o duvidoso, majestoso.
Poderia ter seguido
contigo e de bom grado.

Eu poderia pensar menos “eu”
e mais “nós”
caso 4 cordas coubessem no mesmo nó.
Eu poderia ser exclusivo,
caso não me importasse em virar pó.

Mas eu não gosto de nada simples
e muito menos monótono.
E por isso vou seguindo errando
até não mais existir esse plano,
até meus pés não mais caberem no pano.

#2 - Gravidade

Tudo sobre meus ombros,
por toda a caminhada essa era
a única sensação que eu conhecia,
a única que me cabia.

Mas ao avistar o grande satélite
que se estendia no horizonte
rumo à seu lugar real
a salvadora Energia fluiu do monte.

Leveza, pela primeira vez,
tomou-me o corpo e, de súbito
fez-me erguer o pé do chão
de encontro a aqueles que jaziam em silêncio absoluto.

Abaixo de nós um mar negro
enfestado de dor, sofrimento e luto.
Estavam todos aqueles que outrora
foram contra aquilo pelo qual eu luto.

E como num piscar de olhos
volto à minha condição inicial,
condição da qual não era justa
para nenhum tipo de animal.

Então quase por surpresa,
a luz prateada banha minhas costas.
E me mostra que na natureza,
Meras coisas não são só coisas.

#1 - Reflexão

Anteontem tudo estava embaçado,
mas, pude ver claramente a confusão
que se passava na minha cabeça
tentando entender a alucinação.

Ontem pude ver o lado negro
das múltiplas cores que habitam
naquele pequeno pedaço de papel
que é facilmente adquirido nas ruas.

Hoje pude estar novamente
como telespectador desse show de horrores
e percebi que toda aquela cegueira
invalida os meus velhos amores.