quinta-feira, 28 de novembro de 2013

#21 - Cronus

Já não quero mais insistir nessa dor,
talvez eu não lhe ame mais,
talvez eu seja um bom ator.

Já não cabe a mim insistir,
nem a você aceitar e nem ouvir
tudo que eu tenho pra falar,

e nem aos outros nos assistir.

Já tive profecias sem fundamentos
suficientes para uma bíblia.
Cansaço e mal humor
dignos de um pai de família.


Já entendi que pra você
não sou assim tão aconchegante
e que nem ao menos lhe caibo.

E também que não depende de mim
nem de você ou sequer do tempo.
Depende de nós.


Já não vai mais me assombrar
em todo e qualquer segundo de mente vazia.
Tive o suficiente dessa fadiga 

pra toda uma vida.

Já deixo você ir.
Já vejo você voltar.
Já vejo eu sorrir.

Já vejo o mar.
Anseio seu ancorar.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

#20 - Briga pelo segundo lugar

Você desapareceu
mas teu perfume permaneceu,

em minhas roupas,
em meus poemas,
em minhas músicas,
em todo canto que eu ria.

Impregnou com praga branca
meu caminho,

meu olhar,
meu sentir,
meu sorrir.

Você disse a outro e não a mim
teu desviar,

tua ausência,
teu preocupar,
tua inocência. 

Inocência por sua escolha
de se afastar,
de se arrepender
de me ignorar,
de não mais nos ver.

Então me caiu a ficha,
Eu também posso escolher.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

#19 - Pipa em vácuo

 E há quem dirá
que eu me esforço de menos
se lhe deixo voar
e fico no encalço com olhos atentos.


Se queres ar, não vou negar
mas a hipotermia corriqueira
que bate, sacode, canta

e me afoga de amar
me faz questionar.

Há quem diga ainda
que te prendo demais
se em teu encalço fico
se a todo momento lhe quero comigo.


Lhe solto querendo prender,
mas lhe solto sem problemas
mesmo por dor, sem querer
quero que corra e desfrute
e se desprenda do que lhe insulte.


Eu que o digo,
se lhe admiro voar
é porque tenho vontade de voar contigo.
E não me espanto por moço-amigo
se ao nascer do sol voares comigo.

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

#18 - Diamante

Diamante, bruto ou lapidado
de mil pontas e mil lados
de alma pura ou de brilho ocultado.
Preso em anel de casamento,
moldado pela lava ou pelo vento,
está agora em minhas mãos.

Seja ganho por garimpo suado
ou em loja-vitrine comprado,
obtido justamente 
ou por sujo-homem roubado.
Jamais perde seu valor,
sua falta, ouro nenhum pode repôr.

Tão brilhante e quente como o sol,
tão precioso e potente como o anel,
O custo de tal é inestimável 
e todos o procuram
Mas esse é meu.

Meu, por roubo e direito,
não por eu o ter comprado
mas por ter sido eu o garimpeiro.
Por lhe ter amado
e por ter lhe dado beijo,
apesar de ainda não termos encontrado eixo.

Colocarei logo em ti um anel,
esse é o meu desejo fiel,
depois de ti não haverá outras.
Me vejo refletido em sua clareza
sua luz, tão clara, 
quase machuca os meus olhos,
mesmo assim entro em extasia. 

Em joalheria não me sinto mais tentado, / Outros podem ter pérolas, talvez rubis
pois eu tenho minha amante, / Mas eu tenho meu diamante,
meu eterno brilhante. / meu precioso amante
Eu tive você. / Eu tive você. - Pollux e Castor.

domingo, 10 de novembro de 2013

#17 - Nesse leva e trás

Não, não me canso de questionar.
O cheiro da viagem

e do transcendentalismo
já está a tempos no ar.


Olho carros pelo vidro
e me recupero,

me lembro que de seu amor
não me livro.


De seus olhos,
de suas coxas,
de seus ombros,
não me livras.

Tantas horas não te vejo.
De tantas formas eu me vejo,

tantas ondas me lembram o teu beijo.

Sou sacana
quando oportunidade não tenho

de te ter ao fim de semana.
Quanta solidão tenho
sem teus braços
Gaia, ana.

Mereço, todas as vezes
em que em teu braço pereço.
Toda e qualquer movimentação
só partem de minha motivação.

Em meu interior exposto
quero apenas te ver,
tocar teu rosto,
lhe provocar,
quando não me faltar ar.

Já não tenho 
mais vida
preciso admiti-la. 

#16 - Sou como um advogado acusador querendo lhe prender

Lento, baixinho, de fininho
lembro de você
em meu quinho, inho.

Você, que faz eu me diminuir
me omitir.
Só tenho a lhe dizer
que me oprima.
Me diminua, subtraia
diminua.
Como só você pode fazer.

Me faça por conclusão

com certeza e exatidão
e não por dúvida
e temperança,
ou por carne, sem ânsia.

Quero-lhe sã,
irmã, grã de ordem
ou em mim de desordem.

Quero pro que lhe faz feliz
para a árvore-vida de vários frutos
ou pra mim de poucos escrúpulos.

E novamente sou quem posso ser.
Algo que caiba eu e você
como posso ser?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

#15 - Culpa, vento sem rumo

Na minha explicação
da tua falta de razão
fui capaz de ver
o erro que não cometi
e que o amor que dei pra ti
passou como folha ao vento.

Culpei-me então
de tua falta de noção
de que abaixo de nós
há um chão duro e frio
e não mais meu colchão macio.

E em outros olhos
a porta aberta
mostra a incerta
certeza da direção
do meu amor.

Culpei-me então
da minha falta de atenção
que cada detalhe
antes incerto
era claro e verdadeiro,
apoiado na dúvida como poleiro.

E agora, folha tornou-se ave
a incerteza do voo tomou rumo
à teus braços e pernas claras
perdido no conforto de teus rubros fios.

Culpei-me então
da busca constante por chave
pro cadeado com clave
pra me tirar da solidão,
e quando a achei,
culpei-me por sua isolação.

#14 - Carro

Estradas largas por quilômetros,
sem postes, sem luzes,sem faróis.
Abaixo de mim a estrada e acima
apenas um céu limpo e a ausência do Sol.

Parte do caminho concluída sem um guia, mapa
e muitos companheiros perderam-se na partida.
Alguns que ficaram no caminho retornam
só para eu assisti-los explodir.

Não basta eu achar minha luz,
há a necessidade dela oscilar por conta própria.
Não basta eu me lançar na estrada
e me dirigir a quem melhor dirige,
há a necessidade do motor sobrecarregar.

Enquanto me arrasto
em primeiro na marcha da partida
as peças vão caindo
e eu as recupero
sempre que possível.

Minha luz guia, farol
ilumina o caminho próximo
e a incerteza do resto da jornada
que permanece em sigilo pelo Todo
e só cabe ao motor a ajudar a iluminá-lo.

Sou um Sedan,
carro de luxo,
esportivo,
um compacto e
em expectativa e
introspecção,
Mini-Van.

Sou o que preciso ser,
o que for preciso pra caber
eu e você.