domingo, 25 de maio de 2014

#46 - À margem do Aqueronte

Pensando em cálculos
para que o futuro se fixe
desenvolvo um programa cego
que me diz aos ouvidos onde ir
mas não me mostra onde, no momento, estou.

Andando em círculos
nas paixões da mesa curva
aprecio a água turva
do incerto amanhã.

Percebendo que estes passos já passei
faço mapas pra me recordar
dos passos falsos que me acometeram
e dos acertos que ainda vou errar.

E me descubro estripado de asas
observado e dissecado em pelo nu.
E desvendado por olhos que aprecio
lentamente me envolvo em minha manta azul.

Sentado,
me descanso pro desgaste certo
que do ninho da ave, amor, me viu
e com prazer me acomodou em seu terno
recitando delícias à beira do inferno.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

#45 - Ap. 603

Espero que tenha encontrado amor,
nessas incessantes paradas tuas,
e mesmo que de razão esteja nua,
que tudo isso resolva sua dor.

Vendo aqui do apartamento ao lado, nada disso faz sentido.

Penso se fui muito duro contigo
ou se o pouco caso do destino
a ajudou a se perder.

Seus ideais se partem em suas ações
e você não percebe que está mentindo para si mesma.
Por maior que seja essa tristeza
ela não vale este poço de ilusões.

E se o truque agora é seu
foste vítima de efeito colateral.
Esse que é mais forte que o ataque desferido
e que apenas denigre teu manto de mentiras.

Por mais triste que seja admitir,
ainda me preocupo.
Fui incapaz de guiá-la por todo
esse caminho escuro que criaste.

E quando cai a gota,
sei que nada valeu a pena,
e que a dor tua era maior
porque no escuro todo não é como facada.

E choro lamentos verbais,
enquanto você se perde
e faço caras de espanto
enquanto assisto tudo, do apartamento do lado.

domingo, 4 de maio de 2014

#44 - Desnecessauro

Nunca foi
dificultado
o ato nato
de apagar.

E apegar por pegar
ou por querer, sem resposta
me igualar
não ajudou a superar.

E bota à tona
quando não era mais dona
a desnecessidade
do drama.

Rompeu meu porto
e levou meus bens,
e ao me revirar
e esculhambar meu ego
destituiu-me.

Já não tenho onde me guardar,
me tirou o pouco que sobrou
e a cavalaria não veio.

Já não tenho escolha, senão, me ocultar.