quinta-feira, 11 de julho de 2019

#180 - Luto

eu costumava derreter
sempre que via seu sorriso
sempre acompanhado de um olhar de curiosidade
como se a tudo desconfiasse,
declarações ou piadas,
e principalmente
declarações bem-humoradas,
sejam elas verdade ou não

seus olhos não deixavam brechas
mas seus sorrisos
sim

seus beijos ressoavam em mim
como sinos ressoam em corações crentes
em um domingo pela manhã
carregado de bençãos e culpa

toda fonte de toque, uma brisa de primavera

eu me sentia leve como nunca antes,
parecido, talvez, mas único em maior parte

fechar os olhos enquanto sentia teu cheiro
era a minha maneira de rezar
para que aquele carnaval nunca tivesse fim

meus beijos, meus toques, minha atenção,
meus pensamentos, meus olhos
eram todos seus

e por ser de carne, osso e de gêmeos
eu te idealizei, eu acreditei,
te desejei e consumi
cada favo de ideia
cada gole de brahma
e de amor

alimentando o monstro que era
minha visão de você

e tendo sido morto e consumido
por este mesmo monstro que alimentei
resolvi ter no exílio do teu brilho
minha própria Valhalla

um lugar para me vangloriar para mim mesmo
de todas as pequenas batalhas
que travei alimentando este monstro

e sei bem que esse foi meu maior erro,
afinal, todo amor se acaba
quando se está em guerra

e luto, é tudo o que me resta
e luto é tudo o que me resta

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