terça-feira, 31 de maio de 2016

#114 - Barganha

não sei como realizar
o batismo dessa criança
não sei como nomeá-la 

alguns gritam: "Troca!"
mas como pode ter sido uma troca
se nada foi me dado?

outros exclamam: "Fogo!"
mas se o fogo foi da mãe
como quem saiu queimado fui eu?

eu, em um momento sábio, grito: "Desesperança!"

único nome a se dar ao fardo
único nome a se dar a essa que é
a criança-símbolo da ausência de todas as nossas danças

#113 - "A brisa, por ser carinhosa, é quem mais tem castigado"

outra quebra
dessa vez prevista
aterrissou 
                 sem dó
                 sem ré

desastre tão vago
que chega a ter graça

o que não tem graça
é o que você me deixou


                 nada
                 nada
                 nada

domingo, 22 de maio de 2016

#112 - "Creio que crer, exige muito mais de mim do que posso oferecer"

ver tudo fluir
acompanhar os desabrochares 
analisar tudo com frieza
e cautela
e paixão
não me satisfaz

só me faz perceber
o quanto deixar minha flor recolhida
me faz perder 
minhas paixões
minhas crenças
minhas convicções
minhas virtudes

ficar flutuando sem rumo ou apoio
só me faz crer que depois de tanto tempo
crer ainda é exigir muito de mim mesmo